terça-feira, maio 31, 2005

Bebês - Personagens Conceituais

Deleuze e os bebés
(postado no blog Rizomando em 30 de agosto de 2003)

"É talvez pelo personagem conceptual do bebé que Gilles Deleuze mostra talvez da forma mais profunda essa relação da vida imanente ao pensamento. A vida, na sua relação mais singular com um pensamento impessoal encarna-se na figura do bebé. Ele é inteiramente singularidade pré-individual, anterior a todas as manifestações do subjectivo. Todos os bebés se assemelham mas mostram expressões que os atravessam completamente, como um sorriso ou uma mímica. Essas expressões são as manifestações de uma vida que percorre e que singulariza, sem individualizar, o bebé. Essa anterioridade do subjectivo deixa o bebé num indefinido que não pertence senão ao sensível. Ele não é sensivelmente indeterminado sem ser ao mesmo tempo determinado como objecto sobre o plano de imanência, isto é, como consciência pré-reflexiva sem ego [moi]. Ele pertence, pois, ao campo transcendental sem consciência. Ele é um puro acontecimento que percorre todo o campo [p. 265].

O bebé assume também a forma mais típica das vontades de potência. Ele opõe-se ao guerreiro cuja função é apenas a de destruir e de dominar. O guerreiro, nessa forma mais baixa da vontade de potência, aplica ainda um julgamento. Ele reparte as partes e, nessa distribuição, age segundo um princípio de julgamento. O bebé não reparte as partes, mas, antes, as percorre de forma nómada. Nesse aspecto o bebé é o grande desterritorializado. Ele salta as cercas, ultrapassa os limites e não distribui, nunca, as partes, fundamento da faculdade de julgar. O guerreiro é grande enquanto o bebé é pequeno" [p. 271].

Stéfan Leclercq. "Deleuze et les bébés". Concepts. Número fora de série sobre Gilles Deleuze. Janeiro de 2002. Sils Maria Édition, Paris: 258-273. [tradução de Tomas Tadeu da Silva]
in

sexta-feira, maio 27, 2005

A GRANDE ALEGRIA



Farnese (1966-78)

A imanência: uma vida...

"Um dia, a base de um possível móvel em estilo antigo, um ovo de madeira daqueles de costura, uma cabeça de santo de gesso e uma bola de gude se juntaram, e 'aconteceu' o meu primeiro objeto.
(...)
Um dia encontrei [no Barrio Chino de Barcelona] um enorme saco plástico contendo desde a certidão de nascimento de uma tal 'Dolores Masorrales', suas recordações, pequenos objetos, cartões-postais, fotos de época e até recibo da pensão que obtinha do marido morto na guerra civil. Foi uma felicidade, um estranho prazer que senti ao examinar aquela documentação toda, quase como se estivesse roubando ou me apossando daquele ser humano que existiu, amou e sofreu como todos nós. Um amigo também artista me aconselhou a fazer uma enorme caixa-ambiente desse material. Para quê? Só a sensação que tive ao viver parte da vida daquela que foi Dolores Masorrales foi mais que suficiente. Aproveitei apenas algumas fotos e cartões-postais.
O prazer que me proporcionam esses achados nas mais variadas fontes, o encontro de duas peças que se completam, às vezes até existentes no caos do meu ateliê, e o ver a obra pronta, completa, definitiva. É aí que reside minha grande alegria."


Extraído do texto "A grande alegria" de Farnese de Andrade, 1976.

domingo, maio 22, 2005

INTUIÇÃO

"Que toda filosofia depende de uma intuição, que seus conceitos não cessam de desenvolver até o limite das diferenças de intensidade, esta grandiosa perspectiva leibniziana ou bergsoniana está fundada se consideramos a INTUIÇÃO como o envolvimento dos movimentos infinitos do pensamento, que percorrem sem cessar um plano de imanência."

Trecho extraído da pg.56, do cap. "Plano de Imanência", do Livro O que é a filosofia? D&G

sábado, maio 21, 2005

filosofia?

Algo continua me intrigando: a partir de quando estamos fazendo filosofia? Será que vez ou outra não nos lançamos no caos, querendo preservá-lo e buscando planos de imanência sem saber disso? É necessário querer fazer filosofia para fazê-la? As vezes me parece que racionalizar nos leva a transcender. Não foi o Wittgenstein que falou que a lógica tem um pé na metafísica?

Aquilo que está entre um pensamento e outro (tecido sobre a qual se debruça a filosofia segundo o Ricardo) não pode ser chamado de intuição?

Intuição: arte? filosofia?

Ao confessar que tenho muita dificuldade de ler e escrever me dá vontade de ler muito e escrever mais. Por puro desafio. Não quero estudar filosofia mas quero experimentar um pouco daquela faísca que risca por traz dos olhos do Ricardo.

O cheiro da imanência instiga a minha constante vontade de experimentar. Começa a espreita, a ronda. O que isso poderá depertar no meus hábitos?

Gostaria de ir até o fim do livro!

Marco

domingo, maio 01, 2005

Bom dia, coletividade!
Depois de uma noitada deleuzeana, relendo o "plano de imanência" (e correndo sobre ele em suas velocidades infinitas), resolvo dar um passeio pelo nosso blog nessa manhã de domingo e - ôpa! - descubro que ele afinal se move... A Coletividade se convida a assistir a entrevista de amanhã com o Renato Janine Ribeiro. Excelente idéia! O cara é mesmo muito legal e um pensador brilhante. Daqueles raros professores de filosofia que nos estimulam a pensar... Já que foi dada a referência de seu site pessoal, aproveito para acrescentar que, há uns dois anos, nós fizemos uma entrevista com ele para a revista Interface, que ele também publicou em seu site: entrevista para Interface. Aliás, foi um número sobre "Ética e Direitos Humanos" que ficou todo muito bom: revista Interface (procurar o número 12).
A Coletividade também se convidou há alguns dias a visitar a exposição do Itaú Cultural sobre o "corpo na arte contemporânea brasileira". Outra ótima idéia. Devemos fazê-lo! Mas a exposição mais indispensável neste momento na cidade é a do Farnese que está no CCBB. Espíritos sensíveis, cuidado! Talvez seja melhor sorvê-la em pequenas doses... Para quem for, não deixe de assistir ao filme-documentário do Olívio Araújo que é exibido "non stop". Há muito o que discutir nessa obra da perspectiva de nossos estudos espinosanos-deleuzeanos: o seu caráter de uma "arte menor" ou seu "devir minoritário", o plano de imanência (aqui tomado como um plano de composição), os conceitos (aqui tomados como "blocos de sensação" ou afectos ou perceptos), os personagens conceituais (figuras estéticas) e, até mesmo ou sobretudo, a "grande alegria" (a Grande Saúde desta obra profundamente triste e perturbadora). Enfim, uma exposição a ser invadida por hordas nômades. Uma exposição que invade nosso espírito e o povoa de afectos nômades...
E o que mais, agora? Só mais uma vez, desafiar a coletividade a "coletivizar-se"... Poderíamos antes de cada encontro lançar pontes entre o discutido e o por se discutir. Dos "conceitos" ao "plano de imanência"... Lançada a ponte podemos, é claro, (per)corrê-la em todos os sentidos... Quem se habilita?
Meu toque didático: especial atenção ao exemplo III!
Até terça, 3!
INFORME
Colegas CsO,
Amanhã, segunda-feira (02/05), no programa Roda Viva da TV Cultura às 22:30, será entrevistado o filósofo brasileiro Renato Janine RIbeiro.
Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne. Tem se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a idéia de revolução, a democracia, a república, a cultura política brasileira. Entre suas obras destacam-se "A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil" (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e "A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes" (2003).
Para ler alguns de seus artigos, tem o seusite pessoal www.renatojanine.pro.br
Ele também é colunista da página da AOL.