sexta-feira, maio 11, 2007

A multidão é o contrário da solidão

Se nos lembrarmos que a finalidade da república é a liberdade e que, por isso mesmo, a função do Estado não pode consistir em transformar os homens em "animais" ou em "autômatos", ou seja, em seres privados do mundo comum e do poder de construi-lo, podemos colocar, inversamente, que as duas tendências contra as quais se deverá necessariamente construir um mundo comum (e um corpo político resistindo em regime de paz) sejam exatamente a automação e a animalização. A automação (que pode ser, aliás, uma servidão feliz na adesão a uma forma de vida, como foi o caso no Estado hebreu [e é o caso de nosso "reino monárquico do mercado" e da presença "mágico-reeligiosa da mercadoria"]) e a animalização, segundo um regime de guerra levado até o limite do terror que apaga toda comunidade e "no qual se dá, diz Spinoza, o nome de paz à escravidão, à barbárie e à solidão".

Fragmento do texto Política: "Eu entendo por isso uma vida humana" - Democracia e Ortodoxia em Spinoza do filósofo Laurent Bove.