sábado, julho 02, 2005

Exílios

E aí galera nômade!
Ontem assisti a um filme nômade, um filme sobre nômades: Exílios.
Alguém viu? Deve ser visto.
É um road-movie a européia, um road-movie andarilho, road-movie cigano, mas, sobretudo, o primeiro road-movie do terceiro milênio. Ele realmente atualiza o gênero: é o que pode ser a "road" hoje, é o que pode ser a viagem, o contato com a diferença, o "despaisamento" (depaysement), o "estrangeiro", num mundo percorrido por multidões nômades, em exílio (prontas para o ÊXODO?)...
O casal francês - descendentes de argelinos (filhos de exilados, ontem) - resolve partir a pé para a Argélia, atravessando a Andaluzia com toda sua "mestiçagem" árabe-européia temperada pela força "desterritorializante" dos gitanos...
Sua viagem é no contrafluxo das multidões de exilados argelinos e outros exilados que, hoje, se deslocam para a França...
Mas eles, com seus “territorializantes” passaportes europeus, se descobrem não menos exilados nesse mundo e são mesmo exilados que retornariam ao lar, a um lar em que nunca antes estiveram. E são acolhidos, calorosamente acolhidos como velhos membros da família (agnática!)...
Na existência nômade, em toda parte se está em casa, mas também, em toda parte se é estrangeiro, como descobre a garota ao chegar à Argélia...
Em suma, um filme muito interessante para uma discussão sobre o que está em curso na bolinha azul. Para uma discussão política. Isto é, biopolítica.
O filme, nesse sentido, é realmente muito bom e se caracteriza, estranha e significativamente, como um "road-movie sociológico". O velho gênero dos jovens "em revolta" que põem o pé na estrada é atualizado numa versão que compendia os aspectos mais fundamentais da mutação sócio-política em curso. Trata-se de um filme sobre o processo de plasmação de multidões nômades, em exílio (prontas para o ÊXODO?)...
Um filme político: a música com que abre a primeira cena do filme fala de DEMOCRACIA. Merece uma atenção especial, cada diálogo, cada canção do filme, suas letras, sem contar as músicas (do próprio diretor cigano, Tony Gatlif), que são alucinantes...
Em cada detalhe, é possível perceber essa composição cuidadosa de uma imanência cinematográfica em que os personagens afetivos, aqueles que sofrem a história na carne, são também aqueles que são a carne da história, isto é, são também os protagonistas potenciais de uma nova invenção biopolítica. As subjetividades em exílio preparariam o caminho do ÊXODO...
Imanência cinematográfica em que as multidões são, elas mesmas, protagonistas dessa história, com suas redes de cooperação, confiança, solidariedade, enfim, em que as multidões aparecem como predestinados sujeitos históricos da DEMOCRACIA, entendida, assim, como a produção biopolítica que lhe é própria.
Enfim, dá para conversar de tudo isso e muito mais a partir desse filme. Quem puder ver, sugiro.
Eu o elejo "cinegrafia" básica de nosso grupo de estudos.

Abração geral.
Ricardo

Pra quem quiser ter uma prévia com trailer e outros babados, só clicar aqui:
Exílios

3 Comments:

Blogger Cora said...

Acabei de assistir ao filme (mais ou menos 2 anos depois, né. rs) e fui pesquisar sobre ele na net porque achei o máximo. Foi aí que encontrei seu blogger. Gostei muito. Até mais

2:02 AM  
Blogger Ricardo said...

Legal, Cora!
Apesar de quase todas as postagens serem minhas, esse blog é de fato de uma "coletividade nômade", de um grupo insólito que se encontra eventualmente para estudar e discutir filosofia, política, trabalho, saúde, arte e outros assuntos.
Apareça!

1:09 AM  
Anonymous estela marcondes said...

t me deliciando com estas leituras! entrei aqui (sem?)querer!!! Queria procurar alguns textos seus sobre comunicação antes da orientação......Caí aqui e me contagiei pelo tom informal, sensível, poético do pessoal....

gostei!

Muito!

2:28 PM  

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