terça-feira, agosto 30, 2005

CRIME

Depois de ler o panfleto, veio uma imagem: a de um mergulhador.

Nos revestimos de dogmas. Eles nos vestem como a um megulhador: roupa de borracha bem grudada ao corpo (protecao contra o frio que nao nos impede de sentirmos calor ou sufocamento), pes-de-pato, cilindro de oxigenio...O problema eh que a materia que nos envolve nao eh agua, eh ar. Andamos desajeitadamente, com grande dificuldade, na certeza de que estamos o mais adequado possivel.

Cometer crimes e nao ser descoberto.O crime nao eh pessoal. Provocar o caos. Arranca-se o cilindro. Nao ser descoberto, ja que o crime pode ser justificado (armadilha dos oculos embacados) pela percepcao da falta de algum aparelho de mergulho no criminoso. A materia que envolve o contexto continua la, inquestionavel.

Cilindro de oxigenio, presente antigo. Foi o primeiro dos presentes daquele recem-nascido, antes mesmo do sapatinho ou casaquinho de lã.


Ju

quarta-feira, agosto 24, 2005

Terrorismo poetico!!!

Paulista com Pamplona, paro no farol. Tempo demorado, espero impaciente. Olho para o outro lado da rua: uma mulher, roupas velhas e imundas, ela inteira imunda, uma mendiga. Tambem espera (o farol?). Parece inquieta, observa tudo e todos. Pára o olhar em duas mulheres que conversam, distintas, provavelmente comentam coisas corriqueiras, amenidades. Num ato subito, a mendiga, quase invisivel para as duas, curva-se para frente e mostra suas indecencias. Susto, grito, uma delas pula pra tras, desviam daquela cena, querem atravessar a rua por entre os carros. Assusto-me, incomodo. O farol abre, incomodo. A mendiga vem em minha direcao, incomodo. Disfarco, desvio o olhar, apresso o passo, nada demais aconteceu, ela nao existe. Passou, passamos uma do lado da outra. Incomodo. Vem o pensamento: monstros nao podem existir.

Tempo escondido

Quando crianca, era um tormento ir dormir. O quarto estava povoado de vozes assustadoras, barulhos, sombras. Os pais, acalento, diziam que monstros nao existiam, tudo invencao. Em momentos de maior desespero, escondia-me embaixo das cobertas e repetia quase como um mantra: monstros nao existem. Foi a forma de sobreviver ate, pelo menos, o dia seguinte.